Tereza


Tereza voltava para sua casa, em sua mão uma sacola com uma   garrafa de pinga e outra de conhaque. Sua pele manchada e corpo obeso escondem a beleza de outrora, apenas seus olhos verdes ficaram.
O trabalho de gari foi árduo, o pior era quando a molecada caçoava.
- Tereza cafetina.
- Terezinha cafetina.
Sua historia era conhecida em toda cidade.


Chegou em casa, deixou as duas garrafas em cima de uma mesinha de canto, foi à cozinha e voltou com um copo americano, abriu a garrafa de pinga e tirou uma dose da metade do copo, tomou em um gole só, fechou os olhos e respirou, voltou para a cozinha e requentou a sopa do almoço.

Após a sopa foi com seu copo até a mesinha, colocou outra dose de pinga e tomou.
- Mãe!
Olhou de um lado, de outro.
- Mãe!
E finalmente viu o fantasma de sua filha maior num dos cantos do cômodo. E disse.
- O que você quer. Já falei para vocês não aparecerem mais aqui.
- Por que você fez aquilo com a gente?
- Você Cátia, disse Tereza colocando mais uma dose, nunca quis nada com nada, só queria namorar; sair com os meninos; não trabalhava e nem me ajudava em casa.
- Eu só tinha dezessete anos!
- E era uma vagabunda! Em vez de ser puta aqui, foi ser em São Paulo.
- E minhas irmãs mereciam o mesmo? Elas estão atrás da senhora.
Tereza se virou e viu os fantasmas de suas outras duas filhas.
- Cássia! Carla!
- Cássia tinha quinze anos e eu apenas treze! Disse Carla.
- Vocês iam virar putas mesmo,
- Talvez, mas estaríamos vivas! Disse Cássia
Tereza colocou mais uma dose de pinga.
- Quanto recebeu pela gente? Perguntou Carla.
- Foram cinco mil e cinqüenta reais e mais um litro de “Red Label”, que bebi na mesma noite.
Tereza sorriu e continuou.
- O dinheiro durou três meses, gastei no forró com homens e bebidas.
Cássia se aproxima..
- Mamãe! Vi Carla tossir e tossir nas madrugadas, em semanas seu catarro era só sangue, morreu em uma calçada as cinco da madrugada.
Tereza esvazia sua garrafa de pinga em um só gole.
Cássia continua.
- Cátia morreu em seu ponto, espancadas pelos carecas nazistas, os malditos usaram correntes, a calçada ficou suja de sangue por dias.
E você Cássia? Como morreu? Pergunta Tereza.
- Fugi de meu cafetão, ele me encontrou, apanhei tanto que fui parar no hospital, três dias depois morri.
Tereza abriu o conhaque e tomou no bico da garrafa.
- O que vocês querem de mim.
Carla se aproximou e disse.
- Viemos te buscar Mamãe!
Tereza soltou a garrafa de conhaque que se quebrou no chão, caiu de joelhos nos cacos, em seu cérebro veias explodiram,olhou as filhas, elas sorriram e desapareceram, Tereza morreu.
Foi enterrada em uma cova rasa no cemitério da cidade.
Um ano depois, uma bela moça parou em frente à cova rasa de Tereza e disse.
- Foram seis anos, queria-te ver viva, desculpa, mas não consigo chorar.
Tirou um celular do bolso e digitou alguns números.
- Alo! Carla! Ela está morta, agora viva, sou só eu e você.
- Cátia! Quando você volta? Perguntou Carla pelo celular.
Disse uma e outra palavra para a irmã e desligou, olhou para cova e disse.
- Adeus mamãe.
Cátia foi embora sem olhar para trás.

Comentários

  1. Oi Pedro!

    Adorei o conto! Vou ler alguns outros, achei bem legal!

    Beijos,

    Marcelle
    bestherapy.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. muito bom , me add Pedro : tiago-tambau@hotmail.com

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Meu desejo.

E AGORA, MARIA, JOÃO e JOSÉ ?

As três perguntas de Adolf.